sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O cinema


Eu vivi profundamente
o cinema americano,
o italiano, o francês,
um pouco menos o inglês,
já o iraniano e o chinês ...
Metade da minha vida,
ou pelo menos um quarto,
eu não só vi, fui ao cinema,
muito mais do que eu já era,
a clamar de tanto ser.
Ser Scola e ser De Sica,
Billy Wilder e Kazan,
George Scott, Frederic March,
Magnani, Edwige Feullière ...
Me faziam existir,
revelavam plena a vida
que eu com eles aprendia
que podia conceber.
Truffaut, Fellini, William Wyler,
Kurosawa, David Lean,
Jeane Moreau, a Binoche,
Raimu, Brando, James Dean ...
Eu vivi profundamente!

Paulo Hecker Filho

cena do filme: "Ladrões de bicicleta" de Victorio de Sica.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

DAY DREAM, de Frederico Barbosa


Esse castelo
o que há de antigo
nosso no ar
vai se construindo

Tantas referências
nossas lentes
fora desse mundo
do vago ralo
da rapidez indiferente

Nesse nosso castelo
vão, circulando, vivos
Tantos Dukes, Claudes, Luchinos
e vários James amigos
nossos companheiros de sempre

Sonhos aprisionados
nessa torre
ilha
correm soltos
mar de marfim
por dentro.

cena do filme: "Rocco e seus irmãos" de Luchino Visconti.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Trecho de "O escritor"


as palavras descem por sobre a face do poeta como cortinas de água que se fecham sobre a face horrorizada do poeta está dentro do lado de dentro ou então fora o símbolo desce sobre a face descoberta a face descoberta sento-me na minha pequena caixa de vidro que é a página que me isola e me expõe as palavras ao poeta surgem sobem descem sobretudo nascem exasperante a lentidão da mão escrevo tudo isto ilegibilidade porque escrevo o acto de escrever a experiência de o exprimir sem exprimir isto é tentando isso descem mil escritas por onde descem surgem da ilegibilidade dum lado leis doutro leis tudo são regras a transgredir

Ana Hatherly, trecho de "O escritor"



foto: Cena do filme "Os incompreendidos", de François Truffaut.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Festival de cinema


Acontecerá em Taubaté, SP nos dia 09 e 10 de novembro um festival de cinema e dentro desse festival uma mostra competitiva de curtas amadores ou não em diferentes mídias.
Infelizmente o prazo para incrições da mostra foi estendido até dia 29 de outubro por falta de inscritos. O festival é organizado por gente super bacana, com patrocínio grande e prêmio para os concorrentes da mostra.

As datas do evento são:

Dia 29 de outubro - Fim para inscrição para mostra competetiva de curta amador

dia 9 e 10 de novembro – Festival de Cinema

Link para contato: http://www.aprendizesdecinema.com.br/

Léo Mariano

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Poemínimos, de Wilson Nanini


1)Concha
Sobre o brilho
esnobe da pérola, me fecho
em treva autofágica.


2) Artefato
Desvelado,
o perfume
perfura a cegueira.


3) Deserto
Ou a distância impossível:
a água parca
ou a sede imperecível.


4)
À porta da igreja,
dois leprosos
cobrando ingressos.


5)
Muro alto
de repente um pássaro
em vôo raso.

Schopenhauer, de Cláudio Daniel


Água
de nenhum
mar, gema
de extinta mina,
não mais
que o fulgor
de vidros
(cristaleira)
e o viço
de madeira
nova,
lua líquida.
O tempo
lacera
o verde
nos olhos
do gato,
lepra
das flores,
ácido
que corrói
toda cor
ou pele
em escuro
miasma,
peixes
do nada.
Este
é um ofício
doloroso,
uma ópera
ruidosa.
Porém,
tu foste
o tigre.

1999




foto: Cena do filme " Quem tem medo de Virgínia Woolf?"

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Invenção da Rosa


Atirei de carabina/penetrei a noite fria

Furei o eixo da lua/do leite escorreu poesia

Calei a boca da noite (sua voz que não se ouvia)

De todos os meus inventos/esse foi o mais sensato

Criei a Rosa-dos-ventos/ seu encarnado retrato

Corola de cata-ventos/ e seu espinho abstrato


Paulo Bandeira da Cruz

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

FOCOS, de Sebastião Uchôa Leite

Poesia é a sombra
Em guarda atrás de alguém
Ou na frente
Abrindo o caminho
Diminui ou alonga o vulto
Conforme o foco solar
Abre-se ou estreita-se
No jogo hiperrealista
Entre o eu e a margem.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


O prazer era tão grande e intenso que acabei por abandonar o curso de Física e fui cursar Letras na USP. Lá, encontrei o maior túmulo do prazer relacionado à leitura que já vi: quem antes gostava de ler passava a fazê-lo apenas como obrigação; quem queria escrever era levado a desistir. Infelizmente, creio que o cenário continua basicamente o mesmo: a maioria dos cursos universitários de Letras nesse país ignora completamente a literatura contemporânea inventiva, poucos se preocupam em estimular a redação criativa entre os alunos. Pois bem, apesar da universidade, eu continuei gostando muito de ler e sentindo necessidade de escrever, embora quase tudo conspire contra.
Frederico Barbosa


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Graça, de Ecanaã Ferraz



Não saberia dizer a hora
em que me desfizera de tudo que não era teu,

quando cada coisa se deixou cobrir
por tua presença sem margens

e deixou de haver um lado
que fosse fora de ti.

Gênesis!


Já que pouca gente conhece poesia brasileira contemporânea resolvi criar esse blog, espero poder atualizá-lo com frequência!!