quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Graça, de Ecanaã Ferraz



Não saberia dizer a hora
em que me desfizera de tudo que não era teu,

quando cada coisa se deixou cobrir
por tua presença sem margens

e deixou de haver um lado
que fosse fora de ti.

Um comentário:

  1. Vivendo de analogias - às vezes, estranhas.
    Mas me lembrei de um poema do Vinicius, "Conjugação da ausente", principalmente da segunda estrofe:

    Tua graça caminha pela casa
    Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
    A cabeça enterrada nos ombros qual escura
    Rosa sem haste. És tão profundamente
    Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
    A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
    Porque te participam. Fora, o jardim
    Modesto como tu, murcha em antúrios
    A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
    Quer. És vegetal, amiga...
    Amiga! direi baixo o teu nome
    Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
    Que te emoldura, fatigada, e ao
    Corredor que pára
    Para te andar, adunca, inutilmente
    Rápida. Vazia a casa
    Raios, no entanto, desse olhar sobejo
    Oblíquos cristalizam tua ausência.
    Vejo-te em cada prisma, refletindo
    Diagonalmente a mútipla esperança
    E te amo, te venero, te idolatro
    Numa perplexidade de criança.

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