segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ÉBRIO, de Felipe Stefani




a noite levou-me qual ébrio furacão dentro do sono a casa o perfume nada sabia do silêncio unânime levava o vinho a janela do quarto negro negro minha treva me chamava madame colocava gelo no copo ah caminho vegetal de tentações mesquinhas na manhã abri as asas na revolta de um insone o vôo sobre a cidade a cidade a cidade a chaga imediata dos vícios deixei-a entorpecida pálpebra negra enquanto o sol faiscava uma loucura unânime migrei para as visões distantes a aurora e o beijo afundou-a até a doçura do sonho besta soberba no outro dia era um poeta




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Felipe Stefani

Filme: "Cenas de um casamento, de Ingmar Bergman.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Presente, de Alberto da Cunha Melo






O que hoje recebes

e não podes pegar, guardar

em panos e papéis laminados,

é imperecível,

presente onipresente.

Estás com ele na chuva

e não temes que se desfaça.

Estás com ele na multidão

e não o escondes dos mutilados.

O que não existe para os homens

deles estará protegido,

o que os homens não vêem

não poderão espedaçar.

Eis o que não te denuncia

porque não tem face

nem volume para ser jogado no mar.

Eis o que é jovem a cada lembrança

porque não tem data

e série, para envelhecer.

O que hoje recebes

não pode ser devolvido.