quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Trabalhos do poeta, de Octavio Paz



Uma linguagem que corte o fôlego. Rasante, talhante, cortante. Essa deve ser a linguagem do poeta.

Uma linguagem de aços exatos, de relâmpagos afiados, de agudos incansáveis, de navalhas reluzentes.

Uma dentadura que triture o eu-tu-ele-nós-vós-eles.

Um vento de punhais que desonre as famílias, os templos, as bibliotecas, os cárceres, os bordéis, os colégios, os manicômios, as fábricas, as academias, os cartórios, as delegacias, os bancos, as amizades, as tabernas, a revolução, a caridade, a justiça, as crenças, os erros, a esperança, as verdades... a verdade!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009


Atração

o que me atrai na mulher
é essa sua capacidade de poetizar a vida
com as pernas abertas
a atrair meu pênis para suas funduras oceânicas
onde poemas em ovulação

(Carlos Pessoa Rosa)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009


Burocratas te advertem que a aurora foi abolida por tempo indeterminado. Comunicam que o trigo e o vento serão exportados para o arco-íris.
Aconselham-te a esquecer
o corpo ensangüentado dos acontecimentos.
Eles te ensinam que o orvalho não cai sobre aqueles que semeiam dúvidas. Mandam esvaziar tuas palavras de toda a possível reminiscência.
Burocratas te fiscalizam do alto dos edifícios, escanchados nalgum dragão lunar.
Eles te dão um ataúde azul
e te ordenam que é tempo de morrer.

Francisco Carvalho

cena do filme: "Kafka" de Steven Soderbergh.